VII Demônios Vol. 1 Inveja-Leviathan

O veneno da sanidade. A doença antiga.

Ilustração de Capa: Pieter Brueghel
Ilustrações internas: Gustave Doré, Lileya e Diana DK 
Capa e diagramação: M. D. Amado 
Revisão: Celly Borges 
Editor responsável: M. D. Amado 
Editora Estronho 
Vários autores



Rafael Montes: “As Irmãs, Valia, Velma e Vonda” 
Donde brota a inveja? Ela deseja aquele que tem, ou aquilo que pertence ao outro. Até onde vai o querer ser outro? Rafael Montes, trás no seu conto, que abre a antologia, personagens que se descobrem a medida que também nos são reveladas e os sentimentos crescem, seguindo por um caminho confuso, difícil de entender, assim como o tal sentimento obscuro. E chega então a crueldade para fazer valer o sofrimento. Aqui, essas três irmãs tem para si um final inacreditável, escritas por linhas tortas, mentirosas e maculadas com sangue. 

Richard Diegues: “O Ferro é Palha, o Bronze Pau Podre” 
Aqui, o autor nos brinda outra vez com seu, já costumeiro, texto peculiarmente bem escrito e lapidado. Pensado em cada detalhe, de falas certeiras que envolvem e aprisionam. Uma história que na verdade é uma passagem. Uma fantasia junto à distopia. Uma criatura demoníaca junto a alguém que muito deseja e nada tem a perder. 

Fabiane Guimarães: “Duas Vezes Ana” 
Pode seu outro, igual a ti, invejar o que é? Nesta história a confusão entre real e imaginário, entre as nuances de uma mente perturbada ou uma criatura espectral e soturna conduzem a história. É fácil se apiedar do mal e daquele que sofre. É impossível distinguir. Mas a inveja destruidora está lá, matando e mentindo como o torto reflexo de uma mente turva no espelho. 

Valentina Silva Ferreira: “Chora, Mia, Chora” 
Neste conto a autora não poupa sangue e crueldade para os atos de sua personagem. O cotidiano da loucura que é matar pela inveja, assemelha-se a cozinhar. Para sua personagem principal não há limites, nem lugar certo onde chegar, há apenas o caminhar, o fazer, o ato continuo, quase ininterrupto de se vingar, de se fazer valer, de velar sua indignação, seu vazio, seus sentimentos angulares e cruéis. Uma vontade que nunca será saciada, mas que precisa de alimento constante em seguidas noites de rios de sangue e pó de putrefação. 

Davi M. Gonzales: “Pablo, Meu Querido Irmão” 
Esta história começa de uma forma totalmente diferente, assemelhando-se a um relato de um estudioso sobre certo poder místico. E depois, vai para o ceio de uma família, onde dois irmãos enfrentam um mal do qual parece não haver escapatória, provindo de uma inércia constate e fatídica que acomete um deles. Muito é feito, muito mais ainda é ignorado. E a vida segue. Quando menos se espera a revelação é feita. Cruel, fria, aniquilando as esperanças, e aqui, a inveja vence em uma sinfonia teatral. 

Lemos Milani: “Inumana” 
Se a inveja é um sentimento humano, demoníaco ou animalesco, ela poderia ser também provinda de um ser inanimado? Mas caso isso fosse possível, não passaria esse que a tem, a ser tão humano quanto aqueles que lhes despertam tal sentimento? Passado tal estranhamento, o que temos é o terror, aquele mais antigo, aquele mais ardiloso, que é não se saber ter um inimigo que lhe espreita e que, não podendo ter aquilo que deseja, se vinga. A história de uma família é vista aqui sobre outro ponto de vista, uma espectador comum a todos, mas silencioso e que trás arrepios em uma trama que se encerra de um modo cruel e forte. 

Evandro Guerra: “O Círculo do Demônio” 
Mais um laço familiar se quebra. Apesar de algumas criaturas aparecem e sumirem do texto sem que se entenda bem o porquê, (afinal podiam ser simples guerreiros inimigos), mas esse estranhamento passa logo no começo, e o que de fato importa tem início. Um toma o lugar do outro, mas não como se imagina, não por ser cruel. Tudo então é o contrário. Aquele que perde, perde não pelo desejo do outro, e sim por suas próprias falhas, por seu próprio egoísmo ou talvez, orgulho. E então, a inveja nasce para aquele que perdeu. As vozes sopram em sua mente. Nada é exatamente o que parece ser nesta história muito bela e tocante. 

Eriwelton Alves: “Desejo de Pecar” 
Criaturas. Um conto de terror, muito bem arquitetado e de arrepiar, onde se ganha o que se deseja, a um preço incrivelmente alto. A inveja aqui, porém, ao menos no personagem principal é motivada pela vontade de vingar-se. Um diferencial dos outros contos onde a inveja é que faz nascer a aniquilação daquilo ou daquele que se deseja. Em “Desejo de Pecar” o que há, é um ser bom que, embebido pela dor e pela perda, quer ter a mais impiedosa e vil capacidade, e por isso se vende e tem sua paga. Um conto que me agradou demais. De causar calafrios. 

Leona Volpe: “O Lago” 
Um conto atemporal como os contos de fadas, perdido na própria imaginação como uma fábula. Aqui, as atitudes daqueles que são diferentes no mesmo tanto que se parecem conduzem uma trama que mais parece uma história soprada pelo vento. Um conto muito belo e triste, onde a inveja não quer que se concretize e se tenha o objeto de desejo, e sim, apenas e puramente fazer com que deixe de existir. O conto que mais me fez refletir.

Maurício Pessoa Pecin: “O Veneno da Alma” 
Uma personagem feminina em busca da tão sonhada perfeição física vai ao extremo para consegui-la. Uma trama cruel e um caminho truculento e cheio de sangue marca essa jornada, de um modo que parece nunca findar, revelando ainda alguns segredos. Magia e a força demoníaca se manifestam por um final sem nenhum “final feliz”. Um conto onde só existe um vencedor, a própria inveja e sua manifestação. Um conto onde autopiedade, determinação e poder se unem drasticamente.

Alliah: “Fogo Negro” 
O simples momento de se degustar um chá se transforma no incrédulo. Um lugar pacato que esconde o mal onde e naquele que menos se espera. Uma história ornamentada que se passa em um único e derradeiro instante, sugando energia e derramando passado. Personagens profundos, únicos, inimagináveis com medos antigos e sentimentos confusos. Um drama tocante.

George Amaral: “Momentos Engarrafados” 
George Amaral nos leva a um ambiente comum, até mesmo pobre, cotidiano, poluidamente metropolitano em um prédio no centro da cidade, onde, o personagem principal se vê entre seu casamento que desaba por falta de carinho (mesmo que seus amigos o invejem) e um mistério nublado e vaporoso e úmido que os envolve. Aqui, a inveja é tanto um sentimento de foco, de único objeto de desejo, como por outro lado, um sentimento magnânimo, incontrolável como a cleptomania, que não tem destino ou querer próprio, ela apenas se manifesta, ganha força, agarra-se com tentáculos a tudo que vê e não pode ter. Um sentimento, não suicida, mas indomável, que prende em sua teia, todos, através de criaturas misteriosas que se confundem com lembranças de sonhos ou memórias apagadas. Um conto de cair o queixo. Inebriante e que segura-nos às palavras do começo ao fim. Este é, sem dúvida, meu conto favorito desta antologia.

Sheilla Liz: “O Fruto de Abarondê” 
Tendo como cenário uma tribo indígena, a mais remota das remotas, e colonos europeus, uma índia confessa seus atos, distribui sua culpa e sentencia seus sentimentos. Aqui, a busca pelo que é do outro, leva a personagem ao mais cruel ato que pela magia cria o seu desejo. A sentença é dada, mas o pesar recai sobre todos em um conto de ótima ambientação, repleto de dor, paixão e culpa. 

Ghad Arddhu: “O Obsessor no Caminho de Ígneo de Bodisatva” 
Uma escrita rebuscada, onírica, e cheia de artefatos cria esse novo mundo de energias, novos limites, luzes e sentimentos. Uma batalha tremenda, a epifania do herói e o caos. Elementos de um conto complexo, parte de um todo corrompido também pela inveja. O início de uma saga que tem como foco, aparentemente, mostrar o bem. 

Como conteúdo, este primeiro volume da série de sete livros intitulada “VII Demônios” trás uma coleção de contos de estruturas e escritas muito diferentes entre si, caminhando por estradas iguais ou paralelas desse sentimento. Uns, abusando de novas ou improváveis ambientações, outros trazendo diferentes inimigos fantásticos, alguns falando principalmente do humano, do frágil, e outros ainda, personificando o próprio Leviathan a seu modo. 
A leitura tem um grande peso reflexivo e alguns cantos inóspitos a serem desbravados – assim como Ana, do conto de Fabiane Guimarães, posso pensar diante a leitura "até onde me espelho?" – e então, mas apenas talvez, seja está massa carnal e instintiva a inveja: os cantos obscuros de nossa humanidade. Afinal, quem nunca a teve dentro de si, por mais remotamente que tenha sido, este pecado? E será que somo capazes de confessá-la, como a índia de Sheilla Liz, nos tornando nus perante a nossa imperfeição? O fato é que, muito provavelmente, a maioria de nós se contenha com tentar anular este sentimento, ou buscar sacia-lo de modo não tão sanguinário e cruel. Mas e nosso pensamento... nossos sonhos, até onde vão? Assim, esses contos escritos no passado, no presente, no futuro ou em qualquer tempo não nomeado, são esses deságues do que é muito mais humano do que se possa imaginar, se, por ventura, nos apropriamos em elucubrações do que seria capaz o demônio Leviathan ter criado. 

Já na parte física do livro, uma capa linda e forte, cheia de detalhes e densa e confusa abre essa coleção, com a primorosa diagramação da Ed. Estronho em um estilo que está tanto no velho, no delicado, quanto para o morto e o antigo. O detalhes são inúmeros e estão em cada pequeno espaço da diagramação cuidada e adornada.

No todo, através dessa seleção de textos, este livro é um amarelado (metafórico) de páginas que nos levam àquilo que nos é muito intimo e antigo, afinal, não foi o primeiro anjo que invejou o criador?

Mais sobre a série no link: Editora Estronho - VII Demônios.

Comentários

  1. Comprei dois livros dessa coleção, e me arrependi muito. Tanto o material quanto o conteúdo são horríveis. Páginas de papel jornal. E os contos... Fraquíssimos, amadores, confusos. O último então.. aff... não sei como consegui ler até o final.

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    Respostas
    1. Incialmente, respeito o seu gosto (apesar de preferir postar em anonimo, o que tira um tanto da relevância da sua opinião).
      Só preciso dizer que o papel é reciclado, por isso ele é mais escuro do que o normal.
      E discordo que sejam textos amadores, mas se não gostou, é de fato uma pena. Nunca podemos agradar a todos.

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  2. Querido anônimo,

    Existe uma ENORME diferença entre papel jornal e papel reciclado, que ao contrário do que muitos pensam, é inclusive muito mais caro que o papel comum. Aliás, eu faço bem uma ideia de que é você... Grande abraço, meu querido.

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